segunda-feira, 28 de julho de 2025

Introdução – Em Busca de Pegadas

Voltei a Israel. Mas desta vez, a bagagem era outra. Não apenas malas, mapas ou guias turísticos — mas perguntas. E, talvez com mais verdade ainda, voltei em busca das perguntas que ainda não sabia como fazer. Quando alguém me indagava, com curiosidade ou com ternura, o que ia fazer por lá, eu sorria e respondia com simplicidade: "Vou conversar diretamente com o Eterno."


Digo isso sem ironia, sem exagero. Era um tempo da vida em que a alma começa a falar mais alto do que o corpo, quando o espiritual, antes adiado, bate à porta com uma força silenciosa. Era um tempo de escuta — e, quem sabe, também de conciliação. Conciliação comigo mesmo, com a fé que me habita desde sempre, ainda que às vezes abafada pelo ruído do cotidiano. Já não bastava saber, já não bastava crer: era preciso sentir.


Israel se tornou, então, mais do que um destino. Tornou-se espelho e oráculo. Era o lugar que eu escolhia para tentar entender esse lado sagrado que sussurra em nós quando amadurecemos, quando olhamos para trás e desejamos, de verdade, que as contas da vida — aquelas que fazemos silenciosamente durante o Yom Kippur — possam fechar com alguma paz.


Planejei cada detalhe com zelo. Foram meses traçando rotas, escolhendo cidades, reservando hotéis, pousadas, kibutzim. Programei a locação do carro, li biografias, estudei os feitos dos tzadikim, desejei visitar seus túmulos — todos, se possível. Não como turista curioso, mas como alguém que deseja render uma homenagem. Um agradecimento. Uma súplica. Cada lugar carregava uma história, e eu queria ouvi-las todas.


Lembro-me do céu de Israel: imenso, limpo, azul de uma serenidade quase impossível. Eu fechava os olhos e agradecia. Não por uma razão específica — mas por estar ali. Por respirar aquele ar que mistura areia e oração. Tentava me concentrar. Ouvir algo. Sentir. Esperava que o vento me dissesse o que o silêncio não dizia. Cada segundo foi um abraço do invisível. Foi, sim, sublime.


Israel, apesar de sua pequena extensão, é um universo inteiro em si. Terra onde o deserto do Neguev se encontra com as montanhas verdejantes da Galileia. Onde o Mar Mediterrâneo acaricia a costa e o Lago Kinneret repousa como espelho dos céus. Subi ao Golã, contemplei os vales e as curvas da paisagem, e cada pedra parecia guardar um segredo — ou uma benção.


Tentei traduzir, nestas páginas, algo dessa experiência — mesmo sabendo que há vivências que escapam à palavra. Ainda assim, escrevo para partilhar. Para dividir um pouco da alegria profunda, quase comovida, que me envolveu ao longo desses quinze dias. Dias intensos, de norte a sul do país, passando por cidades antigas, vilarejos esquecidos, mercados vivos, sinagogas, mesquitas, igrejas. Encontrei rostos de todo tipo: religiosos e seculares, judeus, árabes, cristãos, drusos, turistas como eu — embora talvez ninguém realmente o seja em Israel, porque ali a condição de estrangeiro se mistura com a de filho.


É impossível não se impressionar com a diversidade humana e espiritual que pulsa naquele solo. Impossível não se emocionar com a paisagem, com a história, com o sentimento de que cada canto guarda uma conexão íntima com aquilo que nos constitui. Israel é o coração do mundo — não pelo tamanho, mas pela intensidade. Ali, mesmo quinze dias parecem eternidade. E partir é sempre uma ferida. É fácil, muito fácil, chorar ao se despedir da Terra Santa.


Este livro é, portanto, uma tentativa — humilde, honesta — de traçar com palavras o que tracei com os pés. São pegadas que deixei sobre a terra, e pegadas que encontrei, segui, me emocionei ao reconhecer. Pegadas de homens e mulheres que buscaram, antes de mim, esse mesmo sagrado, esse mesmo indizível.


Espero que, ao ler, você não apenas me acompanhe, mas se reconheça em algum ponto do caminho. Que possa caminhar comigo, com os olhos e com o coração, e encontrar também, entre uma linha e outra, uma pista para sua própria busca.


Porque mais do que uma viagem, esta foi uma travessia.


E toda travessia é, no fundo, um retorno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Safed, onde o vento reza

 Há cidades que não se caminham — se atravessam como se atravessa um sonho, um sonho que não começa no momento em que se chega nem termina q...